quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Começa Festival de Violeiros

O XII Festival de Violeiros e Repentistas foi aberto ontem à noite, no Município de Iguatu, reunindo diversas duplas.

Iguatu. Até amanhã, os moradores desta cidade, na região Centro-Sul, têm a oportunidade de conhecer melhor e apreciar a arte do repente, uma das características da cultura nordestina. O XII Festival de Violeiros e Repentistas é promovido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) e começou ontem à noite com a participação de cinco duplas. Nomes nacionais e principiantes disputam o palco de apresentação para um público médio de 500 pessoas.

Neste ano, o festival reúne 15 duplas que se apresentam durante as três noites, no pátio do Sesc e uma das novidades é a presença do grupo Batuta Nordestina, na noite desta sexta-feira. Nomes consagrados, como Ivanildo Vila Nova, Raimundo Caetano e Pedro Bandeira dividem o palco com duplas menos experientes e iniciantes como Joais Rodrigues e Jonas Andrade. Haverá também lançamento de cordéis.

O festival não tem caráter competitivo e procura valorizar a arte do repente em suas modalidades diversas. Cada violeiro participa mediante o pagamento de cachê artístico. "O nosso objetivo é divulgar e valorizar o repente, evitando a competição entre as duplas", explicou a coordenadora de Cultura do Sesc, Patrícia Vênus. A fórmula implantada desde 2005 tem dado certo e agradado o público, segundo avaliação dos promotores do evento.

O festival começou a ser realizado a partir de 1996, mas não ocorreu todos os anos. A partir de 2005, a unidade local do Sesc assumiu a programação e o evento passou a ter regularidade anual. "Abraçamos a proposta com a finalidade de valorizar o trabalho dos repentistas", explicou Patrícia Vênus. "Criamos um espaço de apresentação na região que em um passado recente era rica de pelejas entre violeiros", disse.


Participação
Somente da cidade de Iguatu participam do festival cinco cantadores: Chico Alves e os filhos, Jonas Bezerra e Joais Rodrigues, Paulo Nascimento e Lourival Pereira. A programação inclui, também, a apresentação do grupo Batuta Nordestina, criada pelo cantador Zé Maria, que inovou e modificou a cantoria tradicional, a partir de adaptação musical.

Durante o evento, são apresentadas pelo menos três modalidades, versos em sextilhas, mote em sete e mote em dez. Dentre os gêneros os que mais se destacam são desafio, galope a beira-mar e martelo alagoano. São repentes que se caracterizam por apresentar uma terminação repetida. O repentista, dentro de um determinado tema, tem de construir as estrofes e enquadrá-las a cada final. Por exemplo: "Brasil caboclo de mãe Preta e pai João" ou ainda "Quando eu ia ela voltava, quando eu voltava ela ia".

É boa a expectativa por parte dos organizadores do evento e dos violeiros. "É um festival que já se torna tradicional e que tem um público cativo", observa o jovem repentista, Jonas Bezerra, que há sete anos está cantando e encantando plateia com versos bem construídos, criativos e cheios de inspiração. "Queremos conquistar a cada ano novos admiradores da arte da cantoria", comentou.

O festival reúne quem já está na estrada há mais de cinco décadas, como o poeta e violeiro, Pedro Bandeira, e quem está estreando, como o jovem repentista, Joais Rodrigues, 17 anos, que há seis meses começou a participar de encontros de violeiros. Entretanto, violeiros experientes não se apresentam com os iniciantes. "Os principiantes terão a oportunidade de trocar experiência e ver a apresentação de profissionais veteranos", observa Patrícia Vênus.

Na véspera de se apresentar com o pai, o violeiro Chico Alves, o jovem repentista Joais Rodrigues disse que está tranquilo. "Estou confiante e já fiz neste ano algumas apresentações pelo Ceará", contou. "Por onde passei tenho agradado e despertado a atenção da plateia", salientou.

Na arte da improvisação dos versos com o apoio dos acordes da viola de dez cordas, os violeiros e repentistas se esforçam para agradar o público, mas tudo depende da inspiração em poucos segundos. A criatividade e a tirada certa ao abordar o tema sugerido tiram aplausos e apoio do público.

Os temas apresentados durante o festival são variados e sorteados na hora. Geralmente incluem assuntos relacionados com o meio ambiente, catástrofes, história, personagens, globalização, amor, sertão, natureza nordestina e a vida do sertanejo. Outras temáticas surgem como corrupção, política e eleições, em abordagens atuais.


Lançamento de cordéis
Durante o evento serão lançados os seguintes cordéis: "Raquel de Queiroz", do poeta, Rivamoura Teixeira; "A história do cordel", de autoria de Murilo Barroso; e "O matuto na praia", escrito por David Luna.

Neste ano, participam os seguintes repentistas: Ivanildo Vila Nova, Raimundo Caetano, Joais Rodrigues e Chico Alves, Paulo Nascimento e Charles Gomes, Antonio Oliveira, Geovani Coelho, Jonas Bezerra e Acrísio de França, Pedro Bandeira, Vicente de Freitas, Antonio Mota, Valdir e Vanúbio Limeira, Charles Gomes e Cícero Mariano, Lourival Pereira, além de José Soares, Jonas Andrade, Pedro Santa Helena, Cícero Mariano, Levi Bezerra e Gilmar Oliveira, Antonio Carleudo, Márcio Evangelista, Carlos Vieira e, também, José Viana.


Fique por dentro Influência medieval
O repente é uma manifestação cultural típica do Nordeste, que surge no sertão a partir de influências medievais da Europa, dos trovadores, trazidas pelos colonizadores e que aqui sofreram adaptações. Há relação com a literatura de cordel. Repentista é poeta popular, um improvisador que, a partir de um mote, cria um poema em forma de repente. O repentista de viola faz a chamada "cantoria", na qual desfila versos improvisados em modalidades de sextilhas, setilhas e décimas, e em gêneros como martelos, galopes, desafios etc.


MAIS INFORMAÇÕES
Unidade do Serviço Social do Comércio, Município de Iguatu
Região Centro-Sul
(88) 3581. 1130


HONÓRIO BARBOSA - REPÓRTER

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